sábado, 24 de dezembro de 2011

VÉSPERA DE NATAL

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Parado diante da padaria, ele esperava que a chuva passasse para ir ao encontro com a mulher, marcado horas antes. Ela lhe telefonara, pedindo que a encontrasse depois de cinco anos de separação. Ainda a amava, mas, estava decidido a não ceder. Tudo acontecera quando o carro quebrara e ele o havia deixado na oficina. Tomara um ônibus lotado para voltar para casa, quando começara a esvaziar aproximava-se sua parada e encaminhara-se, pedindo licença aqui e ali, para a porta de saída. Foi quando a viu, sentada ao lado de um homem que rodeava seus ombros com o braço de forma protetora, cochichando ao seu ouvido.
Levara um choque, mas decidiu não fazer escândalo no meio de toda aquela gente. Segurando na alça do banco onde ela estava sentada com seu provável amante fez questão que o visse; quando isso aconteceu, pediu parada e desceu, sendo seguido por ela.
Não acreditou em nenhuma de suas desculpas, fez a mala e abandonou-a. Agora, cinco anos depois, justamente na véspera do Natal, ela insistira por aquele encontro.
Quando a chuva parou, atravessou a rua e caminhou até a praça e postou-se defronte da igreja onde aconteceria a Missa do Galo, diante do coreto onde a banda de música já afinava os instrumentos. As pessoas chegavam para a missa, conhecidos o cumprimentavam com ar de surpresa ao vê-lo depois de tanto tempo.
Uma hora depois, terminada a missa, os fiéis começaram a deixar a igreja e a banda começou a tocar. Naquele momento, ele a viu atravessando a rua, um vestido florido e sapatos brancos, mais linda do que nunca.



Conceição Pazzola

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A FUGA






Abriu a porta devagar e o vento da noite penetrou nos seus poros, quase o fazendo retroceder, voltar para a cama quentinha e esquecer tudo. Há dias martelava o juízo imaginando a hora da decisão. Não havia mais lugar para o arrependimento.
Estava cansado de discussões que não levavam a nada. Segurou a alça da mala já pronta aos seus pés, fechou a porta de mansinho e saiu pelo corredor. Àquela hora da madrugada, nem viv’alma. Chamou o elevador sem olhar para trás, quando chegou arrastou a mala e apertou o térreo.
Subitamente, o elevador parou entre um andar e outro. Que fazer? Os minutos passaram, transformaram-se em horas e nada aconteceu. Suando em bicas, apertou o alarme na esperança de que alguém com insônia ouvisse, mas nada aconteceu. Sem ter o que fazer, resignou-se; deitou no chão e ali adormeceu.
Não sabe quantas horas dormiu. De repente, a porta do elevador abriu e uma mulher entrou. Ao vê-lo estirado no chão, julgou que estivesse morto e se pôs a gritar. Em breve, acudiu gente de toda parte, e segurando a porta do elevador o suspenderam nos braços na intenção de socorrê-lo, sem lhe dar tempo de explicar-se o puseram num táxi e o levaram para o hospital mais próximo.
Cada vez mais irritado, viu os enfermeiros acudirem e o carregarem numa maca para o internamento. Gritou que estava bem, estivera apenas dormindo no elevador que se quebrara desde a madrugada. O médico que o atendeu balançou a cabeça e disse que haviam errado de endereço. Aquele homem, referindo-se a ele, precisava ser internado com urgência num manicômio.
Sem esperar que os bondosos vizinhos obedecessem ao médico, ele correu para a porta do hospital apavorado, atravessou a rua e desapareceu dentro do metrô.






Conceição Pazzola

sábado, 25 de junho de 2011

NOITES DE SÃO JOÃO

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São João sempre traz lembranças felizes. De quando, por exemplo, passava praticamente o dia inteiro fazendo comida de milho e anoitecia sem que houvesse terminado. Hora de acender a fogueira; o marido e as crianças, de roupas trocadas e banhos tomados iam para a rua onde acendiam a fogueira armada à frente de casa, esperando a hora de assar o milho e soltar fogos, enquanto eu continuava minha labuta na cozinha, toda lambuzada por conta da raspagem do coco, do milho descascado e moído, do liquidificador mil vezes lavado e mil vezes usado, das palhas reservadas para as pamonhas devidamente costuradas na máquina (porque nunca aprendi a envelopar o creme de milho depois de pronto) e fervidas. A panela com a canjica no fogo era mexida ouvindo os gritos e as conversas do lado de fora, a fumaça se espalhando e o barulho dos fogos enchendo os ares.
Quando a canjica estava nos pratos coberta de canela em pó e as pamonhas prontas, o pé de moleque desenformado, tudo pronto para ser consumido por volta de nove horas da noite podia pensar em cuidar de mim. A criançada já havia entrado e saído mil vezes para convidar-me a participar da fogueira e do milho assado. Uma noite inesquecível. De banho tomado e roupa trocada, chamava-os para finalmente servir o jantar junino. Desnecessário é dizer que isso nem era preciso porque eles já haviam invadido a cozinha, descoberto a panela onde fora feita a canjica e raspado o que sobrara.
Hoje sou adepta do lema “Desgruda a mulher da cozinha!”








Conceição Pazzola




Olinda, 24/06/2011

quarta-feira, 30 de março de 2011




ADEUS


Palavra tão pequena e tão difícil /

De dizer no momento da despedida/

Sempre acompanhada por lágrimas/

De antecipada saudade de quem parte/



E pena de quem fica sozinho, abandonado/

Como se a sorte houvesse levado embora/

Toda a esperança de retorno do amor

Que se vai, apenas com a palavra adeus/



Rolam lágrimas desconsoladas, aflitas/

Calam fundo em quem chora e também/

Em todos que o rodeiam mesmo desconhecidos/

Adeus! Disseste na hora de ir embora/



Como quem vai somente até a esquina/

Comprar cigarros numa noite fria/

Embarcaste com um sorriso alegre/

Nos lábios que tanto me beijaram

Deixando a nossa cama vazia.


Conceição Pazzola


29/3/2011

domingo, 16 de janeiro de 2011

CHEGOU A HORA

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Quando eu não estiver aqui
Esqueça a vontade de chorar
Ouça no murmúrio do vento
Que nunca deixei de te amar

Chegou a hora, devo partir
Levo comigo teu último olhar
As ondas dizem o teu nome
Sempre haverei de te amar

Quando os dias passarem
Deixa a saudade se aproximar
Sem tristeza lembra-te de mim
Que sempre haverei de te amar


Conceição Pazzola

sábado, 4 de dezembro de 2010

A VOZ DO VENTO

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O vento quando sopra nas folhas
O teu nome sem parar
Lembra a hora difícil da escolha
Quando me pedias para ficar

Ouve a voz do vento em teus cabelos
Ela te diz que não te esqueci
O amor não morre, não fica velho
Vem comigo, o vento te diz

O mar que murmura queixumes
Quando vem quebrar na areia
Um amor assim não tem ciúmes

Deixa o sangue correr nas veias
O futuro pouco nos importa
O amor para nós é doce cadeia


Conceição Pazzola

sábado, 20 de novembro de 2010

PRECE

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É chegada a hora de lembrar
Sorrisos dados e recebidos
Desejos e sonhos realizados

Se houve mágoa, o tempo sarou
Se houve tristezas ou desamor
Como sal foi atirado ao fogo
A chama cresceu e logo apagou

É tempo de olhar para o passado
Um comprido novelo de lã escura
Perdido nas linhas emaranhadas
Como flor desfolhada sem frescura

O ontem não é agora, virou nada
Nenhuma hora foi desperdiçada
Não há mais tempo de remendar
Meus trapos de vida atrapalhada

Foram-se anos esparsos de festa
Tive chances, dádivas e fantasias
Deixei-as no porto em companhia
Da bagagem, agora o que me resta?


Conceição Pazzola


18/04/1999.